sexta-feira, 8 de julho de 2011

Esses Olhos

Primeiro, uma circunferência cinza, uma esfera branca e aquele âmbar pálido que sempre me deu a impressão de ter constituído um esforço genético tão árduo para se estabelecer!

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Depois que eu decorei os sete dígitos do telefone, e cada vez que a voz dela saía do outro lado da linha um alívio fino e doloroso saltava do meu peito, quando eu ainda era muito menor do qualquer noite inteira.

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Lembro dela na cabeceira da minha cama esperando que eu fechasse os olhos. E eu com medo de piscar e dela desaparecer.

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Lembro de juntar meu cobertor e dormir no canto da cozinha, e de migrar para sala, copa, corredor, dormindo por segundos e acordando para não perde-la de vista, vigiando seu paradeiro de tocaia.

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Lembro da voz suave, um tanto desafinada, enquanto ela entoava músicas em espanhol que eu nunca vi em lugar nenhum, nem soube de onde vieram, enquanto eu imaginava molduras de vitrais circulando a cena; Do miojo com manteiga, dos dias de circo que eu odiava e ela adorava, e de confundir sonho com realidade.

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Lembro de espreitar sua tristeza, sem idéia do que fazer para aplacá-la, e te tentar ser solidária apenas me deixando senti-la também.

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Lembro-me do escuro abaixo da cama dela, enquanto eu tentava me esconder das mãos que tentavam me tirar de lá.

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'Tienen tus ojos un raro encanto,Tus ojos tristes como de niño,Que no han sentido ningún cariño,Tus ojos tristes como de santo.

¡Ayyy! Si no fuera a pedirte tanto,Yo te pidiera vivir de hinojo,Mirando siempre tus tristes ojos. Ojos que tienen, ojos que tienen saber de llanto. Tienen tus ojos un raro encanto,Tus ojos tristes como de niño,Que no han sentido ningún cariño,Tus ojos tristes como de santo.¡Ayyy! Si no fuera a pedirte tanto,Yo te pidiera vivir de hinojo,Mirando siempre tus tristes ojos,Ojos que tienen, ojos que tienen saber de llanto.Ojos que tienen, ojos que tienen saber de llanto.'

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http://musicatono.com/escuchar/Chavela%20Vargas%20Ojos%20Tristes/a6b039e

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Essas mãos tinham outros olhos. Um verde oliva desbotado com manchas marrons circulando as pupilas e cílios curtos. Eu machuquei aquelas mãos, daquele jeito que até hoje dá uma vontade pontiaguda de voltar atrás e fazer diferente.

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Lembro dela passando manteiga no pão, me perguntando como foi na escola, juntando a cama dela com a minha à noite; de pular a janela da casa dela, do quarto dela, de levar café da manhã de aniversário na cama e fazer pétalas de rosa choverem, porque ela era linda igual uma princesa.

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Lembro dela cantando musicas para eu dormir, sem saber que só o fato dela cantar me fazia chorar baixinho.

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Ela tinha uma faísca de luz que quase apagou por minha causa, mas depois foi crescendo, crescendo... E hoje ilumina o meu mundo inteiro.

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Lembro de jogar maços de cigarro no telhado e fingir que não tinha visto; de desenhar em guardanapos e sentar no chão com balas de morango e refrigerante de laranja, enquanto tinha um pirulito na boca.

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Quero colo! Vou fugir de casa!
Posso dormir aqui com você?

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http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/pais-e-filhos.html

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Penso em um terceiro par de olhos. Esses eram maiores em diâmetro do que os outros dois somados. E de cara os achei tão lindos. Cor de mel, mas não qualquer mel, era um mel que parecia ter ficado ao sol, derretido, borbulhado, clareado, esfriado e retomado a consistência.

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Lembro do cigarro preto na boca dela, depois na minha... E o chocolate. E depois o riso histérico a respeito de passar mal com tão pouco.

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Lembro das tardes da piscina nadando de roupa, fugindo do sol que agora eu persigo. De quantas vezes lavei o cabelo, mesmo que tivesse lavado um dia antes, para ficar cheiroso antes que ela chegasse. E de pensar que se dependesse de mim, para cada canto do mundo que ela olhasse ela veria faíscas brilhantes.

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Dos dias de música e absinto com gosto de detergente. Lembro da praça em construção quando eu ouvi algo que quis ouvir minha vida inteira; e da casa velha na beirada do rio. E que ela me inspirou a ser maior do que qualquer noite.

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You were in my fairy dreams i would never forget. ..

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http://letras.terra.com.br/dominatrix/64826/

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São três olhos que eu acho que vão me acompanhar a vida toda.

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Hoje me pego questionando as vertentes da ausência. Até que ponto ir para longe significa abandonar algo ou alguém?

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Uma família que te criou com muito amor, carinho e também um punhado de erros que hoje já me parecem tão ordinários que nem me atingem mais os ossos.

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Quando você é minimamente inocente você tem a premissa de que vai guardar seus heróis salvadores em uma redoma de cristal onde sempre poderá alimenta-los, e assim dar-lhes a certeza que você tem, de que eles são eternos.

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Já não penso mais que a falta física equivale ao abandono, por outra premissa, penso que o abandono por si só encontra toda sua razão de ser na atenção, mais especificamente, na falta dela.

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E pensando nisso eu gelo como se fosse espetada por agulhas congeladas, porque eu sei que me mantive presente ao lado que quem realmente me importava, pensando que a minha parte estava feita ao dormir no pé da cama delas, mas na realidade eu fui ausência.

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Eu sempre odiei o tempo, porque ele é destruidor. E agora me pergunto se tenho tempo para reparar os danos. Mas posso declarar que minha presença agora é muito mais profunda do que qualquer manifestação física. Eu espero as pequenas coisas, na distância ou na proximidade, e agora sei mais do que nunca que posso oferecê-las reciprocamente.

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http://letras.terra.com.br/christina-aguilera/79681/

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

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Tinha tanto tempo que eu não dizia nada. Calada no silencio, e no congelamento. Isso me lembra Thorne, mais um vampiro triste da tia arroz!
Um belo dia resolvi escrever, sem rascunho, de caneta.
Escrevi para alguém, ou para ninguém, pois sonhei que ninguém jamais leria.
Agora estico meus dedos. Estalo as minhas mãos.

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Ela se lembra de uma antiga salvação, que hoje é metade alívio e metade amnésia...
Ela lembra do inevitável, que nomeou tudo que ela quis levar a sério.
Ela via aquelas fotos que ela nem queria procurar... e eles pareciam tão felizes, e ela sentiu culpa por isso lhe partir o coração.

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E quem me lê agora, se é que vai ler, pode até imaginar, mas tenho certeza, que nunca saberá de quem realmente quem estou falando.
Foram 8 mg da melhor amiga, que a fez se arrepender.

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Texto desconexo. Por enquanto tudo é interno. Apesar de começar falando de algo e terminar falando de outro extremo que dói, eu juro que um dia voltarei a escrever, com ao menos um pouquinho de jeito.
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. *** Em reconstrução***
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E perdendo o hábito do rascunho e da releitura.