sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

EMARANHADO DE MIM.

Eu praticamente nunca falei de mim nesse blog. Pelo menos não diretamente.
É costume meu muitas vezes tentar me perder de mim mesma. O mundo é gigantesco em meio a suas paredes de tinta antiga descascada por onde crescem plantas rasteiras, e de lugares onde eu nunca vou pisar, ou sequer imaginar que existem.

A minha vida em meio a tudo que compõe o mundo é tão... mínima.
Stella e Nahema tiveram vidas interessantes em meio a suas tragédias pessoais, mas ainda não estou pronta para contar a história delas do jeito que deve ser contada.

Hoje, no entanto,é um dia incomum, porque eu estou mais submersa em mim do que nelas.

Eu sou uma pessoa que sente uma extrema e intensa ânsia aguda por cigarros todos os dias. Tenho certeza de que se estivesse fumando agora minhas palavras seriam muito mais delicadas e potentes , mas voltar a fumar nos dias de hoje é impensável. As vezes eu me contento com o cheiro, eu amo quando fumam perto de mim.... geralmente quando vejo que alguém que conheço vai fumar eu peço para que sopre a fumaça perto de mim, isso me alivia, mas obviamente eu nunca fico satisfeita.

Eu também gosto de livros, em especial os da tia arroz. Precisaria de um post exclusivo para explicar até onde os livros da Anne me levam, agora só posso dizer que é para muito longe. Também tenho um apreço especial por biografias de mulheres orientais. Elas me levam para vidas passadas, porque eu sei que já fui uma mulher árabe em outra vida, e foi nessa vida que conheci minhas duas avós.... mas isso também é assunto para outro post.

Por fim... eu gosto de pele. De sentir a pele dos utros na minha pele. E gosto de cheiro de cabelo. Na mesma linha gosto do toque do pelo dos animais, e dos barulhos que eles fazem, gosto em especial de gatos. Eles são ariscos, rebeldes, independentes e na maioria das vezes não querem nada com você, mas o que me encanta neles é que você pode ter certeza, que quando esse bicho demonstra alguma empaita para você... pode ter certeza absoluta por tudo que existe no mundo de que ela é profundamente verdadeira.

Por mais que eu queira eu nunca consegui explicar de verdade qualquer sentimento meu. Só eu sei o que se passa comigo e, toda vez que tento explicar um sentimento meu para qualquer pessoa o que eu consigo passar é apenas uma versão editada e maquiada do que eu queria ter dito. Essa sou eu.

Eu sou uma pessoa que já aprendeu a apreciar, mas nunca aprendeu a conviver com a solidão. Pelo menos permanecendo inteira. Acho que está na alma. Eu sinto falta, de uma irmã gêmea, de um fantasma que me assombrou ou de uma amante que me perseguiu, talvez na minha vida mais antiga e acredito que, devo ter passado pelo menos metade dessa mesma vida, chorando a perda desse ser.

Augusto dos Anjos, por exemplo, abraçou o medo a solidão e a tristeza como cúmplices que reconfortavam a lógica de uma vida onde não se alcança felicidade,pois está não estava no espírito dele. E por se aliar assim aos monstros que o assombravam, encontrou a razão de ser do seu mundo. Ler Auguso dos Anjos é perigoso para os desesperançosos, mas apesar disso, penso que se trata de uma leitura indispensável para qualquer pessoa do mundo. Eu admiro e amo o que conheço da alma desse homem, e vou dizer porque:
Porque para seguir pelo caminho que ele seguiu é necessária tanta coraem quanto a de procurar a felicidade. É necessário profundo equilíbrio e claridade de espírito para abraçar o sentimento do qual o ser humano em geral tem mais medo: a tristeza. E para aceitar e mergulhar na condição que o ser humano mais evita: A solidão!
Mas, sem dúvida, o que mais me encanta nesse homem, é a capacidade que ele teve de escrever... e como são belos, esplêndidos, e perfeitos os seus poemas. Para mim, são mensagens muito a frente de qualquer tempo. Sei alguns trechos de cor:

Hino a Dor:

(...) Dor, sol do cerébro,Ouro,
De que as próprias tristezas se engalanam (...)

(...) Sou teu amante, ardo em teu corpo abstrato, com os corpúsculos mágicos do tato,
Prendo a orquestra de chamas que executas,
E assim, sem convulsão que me alvorece,
Minha maior ventura é estar de posse,
Das tuas claridades absolutas!

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Arrepio!
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Mas é importante lembrar também, que existe quem vive na linha oposta á do meu poeta favorito. E essa se trata da mulher que eu considero hoje como a mais extraordinária do mundo inteiro. AYAAN HIRSI ALI. Acho até dispensável falar quem ela é. Mas seu espirito de luta me faz pensar nela como uma sucessão de renencarnações das maiores guerreiras do mundo. Gurreiras da época antiga das sociedades matriarcais, guerreiras da era do bronze, guerreiras pré-históricas, gladiadoras, canibais!
Estou falando nela pois, além de ter vivido para encontrar a felicidade, a satisfaçao pessoal e os direitos humanos ela arrisca a própria pele para melhorar a vida de outras mulheres. Eu me identifico com ela, muito mais do que com o ilustre Augusto, mas no fundo, muitas vezes eu desejo a capacidade de Dos Anjos para completar a vida com os buracos da tristeza e da solidão.

Digo isso porque hoje é um dia em que eu estou muito triste. Mas não quero comentar agora. Quero falar de outra coisa.

Sabe quando agente pensa em um desejo fantástico, assim como se fosse uma criança de cinco anos, e aproveita o prazer secreto de vivê-lo dentro da imaginação? Então, eu secretamente sonho com uma máquina do tempo!

Se eu tivesse uma máquina do tempo eu passaria várias noites parranderas com Cavela Vargas e José Alfredo. Tomando tequila enquanto as letras das apaixonadas e sofridas canções rancheiras escorrem dos lábios que aspiram fumaça e liberam vozes graves e carregadas de energia hipnotizante. Com certeza eu conversaria muito com a Dona Chavela, e inclusive explicaria para a cabeça dura dela que ela na vida encontrou sim um grande amor, mas que nem todo grande amor dura o suficiente para ser caracterizado como relacionamento, mas que nem por isso ele deixa de significar o mundo.
E é claro, não deixaria esses encontros passarem sem que Chavela Vargas me ensinasse a atirar e a montar a cavalo, pois, pelo que eu sei, ela era realmente boa nisso!

Sem dúvida, eu também teria pousado para uma das telas de Frida Kahlo, teria sido dama de compania de Cléopatra por um dia e teria ido ao misterioso enterro de Nefertiti... sério... onde foi parar a múmia dela? Também adoraria fazer uma aparição surpresa nos aposentos privados de cada membro da família real dos Al Saud na arabia saudita e cortar a cabeça de cada um daqueles despotas miséraveis e idiotas. E se brincasse de deus faria todo aquele petroléo desaparecer da face da terra.

Eu queria de verdade também ter conhecido Aileen Wuornos. As vezes penso que queria tê-la conhecido no colegial e a levado para minha casa, ou apenas ter tido com ela um encontro que fizesse diferença no seu destino cruel... mas outras vezes penso que ela precisava fazer o que fez para o mundo. Ela foi uma verdadeira mártir, e sempre vou pensar que foi injustiçada por uma sociedade sexista machista cruel e podre.

Por fim eu gostaria de um encontro com Anne Rice, só p falar com ela, sem saber se ia fazer diferença ou não, que as coisas ruins que aconteceram na vida dela não se passarm por culpa de suas obras. E que o Lestat, o Louis, os Taltos, oS Mayfair, A Trianna e Principalmente a Akasha, mereciam ter sobrevivido.

E em anexo, eu queria uma coisa até bem simples, queria voltar na manhã de domingo em que eu abri a janela para o meu xuxu pular para o jardim. Foi nesse dia que ele foi atropelado. E por causa disso ele tá mal até hoje. Então eu queria não ter aberto aquela janela e ter abraçado ele forte e voltado a dormir com ele...

Mas como máquinas do tempo não existem... na prática eu vivo a minha realidade morna.
E o que eu ambiciono dentro do mundo real?
Hum... eu quero estudar, quero estudar muito, e quero escrever um bom romance um dia, mesmo que seja só para mim. Quero ter a oportunidade de ajudar as mulheres que sofrem, principalmente de outros países, onde não existem direitos humanos. Quero aprender a pintar bonito.... e quero viajar... o mundo todo, cada pedacinho, e provar as acomidas mais exoticas e visitar os vilarejos mais remotos, e ver um dragão de komodo de perto.
Mas acho que é muito né? Talvez eu faça metade dessas coisas na minha vida, ou menos.
Ha... é tão chato analisar as coisas dentro do mundo real.

Mas vamos ver o que eu não queria:

Eu não queria envelhecer sozinha. E eu não quaria ver aqueles que eu amo afundando na vida. Eu não queria nunca ouvir vozes que não são reais, e se existe outra vida eu nunca queria nascer homem. E eu não queria ter a lua em peixes!
Acho que assim está razoável.

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Então... to enrolando e enrolando nesse emaranahdo de nada infantil, mas a verdade é que como já disse hoje eu estou muito triste. Eu tenho uma árdua tarefa pela frente e sei que estou sozinha com ela, pois é assim que tem que ser. Se trata de mim, mas dá medo.Principalmente sabendo que se eu não conseguir eu vou perder mais ainda o carinho dos que me cercam...

Eu me sinto triste por uma pessoa em especial na minha vida, aliás, por duas, mas hoje só vou falar de uma. Porque eu sei que por mais que eu me esforçe eu nunca vou ser do jeito que ela quer, ou do jeito que ela me aceitaria.
E eu me engano constantemente enxergando o carinho dela onde existe obrigação e culpa. Eu me engano achando que as coisas ficarão bem do jeito que são, quando isso não vai acontecer. Me engano achando que faço parte de uma coisa que não faço.
E hoje eu percebo que sempre foi e sempre vai ser assim.... as vezes uma ou outra impressão mudam porque vamos ficando mais maduros, mas o núcleo do sentimento é o mesmo.
E quando eu paro para pensar nisso eu fico triste como agora, e sempre vou ficar.

Tudo que eu posso fazer agora e me esforçar para ser bem aventurada nesse novo desafio. E para que nunca falte luz, e para que nunca falte coragem.
E para que aqueles que eu amo (não meus idolos), para que aqueles que eu amo continuem aqui, e o provir lhes floreça por milhões e milhões de anos!
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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sobre Mulheres, sociedades, e raiva, raiva,raiva...

Chega a ser clichê comentar a situação da mulher hoje e ao longo da história.
Outro dia li por aí, sobre uma autora a qual não me lembro o nome, e acho que agora nem importa muito, o que importa é o que ela dizia: Defendia a idéia de que as mulheres, assim como os judeus, merecem um país, em vista da perseguição e das atrocidades que foram dirigidas a elas ao longo da história da humanidade. Dessa autora só discordo na parte do país. Acho que, em vista dos milhares de anos que se passam até hoje, as mulheres merecem mesmo é um planeta só delas. Porque a violência contra a mulher está muito além de tudo que nós percebemos no nosso dia a dia. Ela está impregnada em cada mísero valor da nossa lamentável sociedade.
Na minha opinião os danos e o preconceito contra as mulheres têm o triste agravante da acumulação. A ordem de respeito e valores mais ou menos essa:

Homem branco heterossexual
Homem negro heterossexual
Mulher branca heterossexual
Mulher negra heterossexual
Homem branco gay
Homem negro gay
Mulher branca gay
Mulher negra gay

Obviamente deixo claro que o que vejo na sociedade, por experiência própria, são as mulheres sempre abaixo de ALGUM grupo de homens, (tirando a questão da orientação sexual, que é infinitamente mais complexa) e digo isso me referindo a padrões sociais.
Digo isso porque analiso o que eu vejo e o que conheço. Analiso as biografias que li, e principalmente analiso as mulheres que conheci. E quando digo isso não digo que conheci mulheres submissas que se deixavam dominar pelos homens, mas digo que conheci verdadeiras mulheres de fibra, que apesar da personalidade brilhante, foram limitadas pelo preconceito dissimulado que alimenta a doença patriarcal que existe na sociedade.

Quando digo que existe um preconceito dissimulado me refiro há um tipo de problema tão bem camuflado que passa despercebido para muitas pessoas e que me deixa queimando de raiva. Posso relatar aqui, uma ou duas das milhares de formas de como ele se manifesta.
No mundo produz-se, por exemplo, entretenimento para atrair a atenção das mulheres. São filmes e novelas que retratam os homens da forma que a sociedade quer que as mulheres os vejam. Para suprir esse papel criam-se os mocinhos. Os homens que vão tratar as mulheres como iguais, que vão amá-las e respeita-las para toda a eternidade. E, eu digo, que esses mocinhos tem um papel imprescindível na formação da sociedade patriarcal que já é por natureza doente.

O papel é o seguinte, se uma mulher se envolve com um homem, que cedo ou tarde comete violência contra ela, a desculpa da sociedade para justificar um comportamento masculino que sempre existiu é a de que ela escolheu o homem errado. ELA teve a CULPA de ESCOLHER o homem errado. Porque na verdade, ela deveria ter escolhido um homem igual ao mocinho do filme e da novela! ...Claro, porque todo mundo sabe que os personagens masculinos de ficção criados para garantir a audiência do público feminino existem na vida real...

Os homens heterossexuais têm, e sempre tiveram aval para se sentirem donos das mulheres. E as mulheres sempre foram encorajadas a enxergar neles mocinhos que não existem e nunca vão existira na sociedade patriarcal. Logo, a conseqüência é a violência contra a mulher. É ex-namorado dando tiro na cabeça da ex-namorada, é ex-namorado atirando na ex-namorada na faculdade, é ex-namorado matando a ex-namorada dentro do carro. É marido matando mulher, é pai estuprando filha, e os milhares de homens anônimos brutalizando mulheres anônimas todos os dias. E do outro lado, vem a fantasia para a ajudar camuflar esse comportamento crônico, é a novela falando que existem homens perfeitos. É a família toda sendo encorajada a dar todo o poder de palavra final para o pai. Nada me irrita mais, do que aquelas mulheres que dizem que o melhor a fazer é deixar o homem achar que está no comando e, pelas costas fazer diferente. PELAS COSTAS O CARALHO. Tem que assumir o comando das próprias escolhas, cara a cara. As mulheres têm que se encarar como seres humanos livres que não precisam camuflar os seus desejos e idéias em prol de manter a sensação machista - sexista do homem de que ele está no comando de todas as situações!
Outra coisa que me irrita profundamente são as menininhas que acham que precisam de um namorado forte para cuidar delas. Tenho vontade de gritar: ACORDA. Provavelmente ele próprio será seu agressor.

Outra coisa sobre a qual comecei a refletir recentemente foi sobre como os padrões de beleza impostos pela nossa sociedade têm o propósito de manter as mulheres, fisicamente vulneráveis.
As mulheres são encorajadas a desejar doentiamente a magreza extrema. Eu sei como é se sentir assim, eu já fui uma delas.E não me orgulho disso.
Em prol desse padrão de magreza as mulheres ficam fracas, pequenas, abatidas. Já os homens, são incentivados a ficarem cada vez mais fortes, maiores, musculosos.
Ou seja:

Homens – Cada vez mais fortes
Mulheres – Cada vez mais fracas

Acho que essa discussão dispensa explicações, nossos padrões de beleza são machismo puro e, literalmente enfraquecem a possibilidade de uma mulher se defender fisicamente de um ataque masculino.

Comecei o post falando sobre um planeta só para as mulheres.E deixo claro que quando defendendo a causa feminina, invariavelmente eu também estou pensando na causa homossexual masculina, apesar de esse texto ser um pouquinho mais específico! Pois é. O problema é que esse planeta não existe; ou melhor: é o planeta terra; só pode se o planeta terra. E é nele que as mulheres e os homens homossexuais tem que lutar pela sua vida, e principalmente pelo seu direito de ter uma opinião totalitária e radical, se eles quiserem.
Porque sinceramente, não acredito que relevando e esperar mansamente por uma compreensão por parte do patriarcado nos venha trazer alguma coisa um dia. E, acredito de todas as formas, que apenas as pequenas indulgências que aparecem de vez em quando NUNCA serão o bastante.

Eu escrevo porque acredito no que eu escrevo. Eu escrevo para quem quer ler o que eu penso. E eu, principalmente escrevo para desabafar um pouco da raiva que me contamina todos os dias. Se alguém, por acaso achou esse blog por aí leu e não concorda... Paciência.

Essa sou eu... Seminua, e ainda não totalmente crua.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

E NASCE UM REDEMOINHO.


A verdade é que Stella conheceu Nahema no mesmo dia que eu... e no mesmo dia entendeu, que erámos três lados de um trângulo desigual!


Bem ou mal.... elas continuam existindo mais do que eu...



Sobre Nahema

Por Stella

Toda vez que chove durante o verão Nahema me vem á mente. A chuva tem algo que congela o tempo em poeira. Quando a vejo cair não posso deixar de notar a fina camada de água que envolve o mundo como um véu, uma fronha, um riacho de vento.


Em cada partícula de poeira eu escondo um desejo. Elas se acumulam nas quinas do quarto no meio de todos os vazios da terra. E meus desejos dançam espalhados pelas ruas estreitas do tempo.


Eu me perdi em tantos pedaços que julgo necessária mais de uma vida para reuni-los novamente. Tenho a mente ainda comigo. Guardada em um embrulho de renda violeta, mais antigo que os vulcões da indonésia.


E por essa mente que eu sei que ainda procuro por ela. Procuro por ela, porque sei que ela guarda uma sacola com os meus pedaços perdidos. Sei que ela foi capaz de andar em cada quina do mundo onde eles estavam espalhados. E ela foi juntando peça por peça como Ísis juntava os pedaços de Osíris.


A primeira vez que a vi chovia. As gotículas de lágrimas sem sabor jorravam do céu e castigavam as roseiras do canteiro de terra em meio ao concreto do jardim, na casa da rua mofada. Ela vinha passando com o cosmopolitismo típico de quem nunca teve lar.


Ela devia ter uns nove anos de idade. Seu cabelo cortado na altura das orelhas estava desarmado pela água, as ondas emaranhadas pareciam dóceis, ocultavam seu verdadeiro aspecto selvagem.


A verdade é que eu já havia visto seus olhos. Mas na ocasião não tinha ao menos vislumbrado sua alma. O espírito decididamente não era branco como os olhos, depois eu vim á saber.


Ela era a mistura de branco preto e marrom. Saia comprida amarela. Aquela altura que podia alcançar o telhado do meu imaginário. E o rosto mais endurecido do que os cactos do deserto.


Desde daquela idade ela já andava como se estivesse indo para guerra. Desviava das minas no campo. Os pedaços dela estavam todos reunidos dentro de um lamaçal seco. E ela levava esse espaço na pele.


Minha alma estava azul, verde e queimada em marrom. Eu já estava chorando, com vontade de correr. Ela já estava tossindo, almejava engasgar e quebrar. Seus olhos claros, ainda nutriam cerca de um terço da visão e se cruzaram com os meus, negros, sadios, intactos.


Não sei identificar o que se iluminou. Iluminou-se transparente como clara de ovo. Eu a via na rua e de supetão senti necessidade de me molhar. A chuva me acolheu com a natureza de uma mãe felina, que arranha e lambe a ferida da cria.


Ela continuava ali parada, na chuva. Uma medusa réptil. Eu não sabia, mas sempre ia enxergá-la como um réptil. Ela me olhou como quem olha para um pedaço de carne crua.


Ela afundou as mãos nos espinhos da roseira. Seu sangue era rubro como buganvílias ordinárias de jardins comuns. Uma agulhada aguda no fundo da minha traquéia começava a me desesperar na expectativa de fazer igual. Eu tinha medo da dor, mas a pulsão foi mais forte do que todas as forças do momento. Afundei as mãos senti, suportei. Naquele momento éramos mais poderosas do que a chuva. Dávamos o sangue por alguma coisa, não importava, no momento o que era. A dor me aliviou e esvaziou todas as agulhas do meu corpo.


Ela não disse nada e saiu correndo. Eu fiquei parada pingando sangue misturado com chuva.


O aspecto grotesco desse primeiro encontro, no entanto não define nada. Apenas delimita uma verdade. A minha necessidade de ir além perto dela. Não é uma questão masoquista, como as pessoas podem supor. É uma questão ideológica. Mas eu não espero que ninguém entenda isso agora. Apenas guarde essa verdade: Perseguir Nahema sempre foi perseguir meus ideais.


E continuou chovendo. E eu não a vi novamente por vários anos.

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terça-feira, 29 de abril de 2008

Texto do Perdão

Me perdoe se eu ando nervosa, com o olho cheio d´água, sempre de cara ruim.
É que eu nasci sobre uma certa influencia ruim do meu signo solar e uma certa inclinação ao sentimentalismo.
Me perdoe se eu não posso te dar tudo que eu deveria te dar.
Me perdoe se eu estou sempre na fresta, no canto escuro, no minuto roubado.
Me perdoe por não conseguir solucionar a maioria dos problemas que surgem no caminho.
Me perdoe porque eu simplesmente não posso existir de um jeito menos drástico na sua vida.
Me perdoe porque os problemas que eu faço se seguirem são iminentes,
E porque eu afasto as pessoas,
E porque eu não posso fazer com que as coisas sejam do jeito que vc mereçe que sejam.
Me perdoe porque ultimamente estamos sempre a céu aberto.
E porque tudo parece envenenado.

Eu juro que me desdobro tentando achar uma solução. Eu juro que ainda vou encontrar uma solução.

E a única certeza que eu tenho é que EU TE AMO.

Me perdoe.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Um começo de algo bom ou ruim.

Outro dia estava pensando a respeito de algo que um amigo havia me falado a algum tempo. Ele me disse que era preciso enxergar e aceitar que casais homossexuais nunca tem sogro e sogra, e que, de certa forma era bobagem esperar o contrário.
Depois disso cheguei na faculdade e fui debater sobre um trabalho a respeito dos trangêneros.
É incrivel a quantidade de estudos que são possiveis de se encontrar sobre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Esse tipo de coisa me irrita e me entristece. Não achava que a sexualidade era algo que deveria ser estudado, discutido ou analisado. Ao contrário, deveria apenas ser respeitado.
Enfim... acumulei raiva durante toda a discussão. Comi um sanduíche no tempo de intervalo com tanta raiva que não sei como ele não me fez mal.
No final meu estomago ainda queimava e minha cabeça doía. Foi aí que eu pensei na questão crucial. Porque ninguém nunca estudou o heterossexualismo porra? Ele é despota e totalitário porque ninguém o questiona.
Deixa eu tentar dar um exemplo: Quando a professora de antropologia ia passar temas de trabalho , ela costumava escrever com quele pincel azul na losa branca: Aborto, pena de morte, eutanásia e homossexualismo. Escolha um tema polêmico para fazer um trabalho de campo.
Porque não homossexualismo e heterossexualismo?
Então eu encontrei isso hj:

O que é o heterossexismo?

O termo "heterossexismo" não é familiar para muitos porque é relativamente recente. Relativamente há pouco tempo é que tem sido utilizado, juntamente com "sexismo" e "racismo", para nomear uma opressão paralela, que suprime os direitos das lésbicas, gays e bissexuais. Heterossexismo descreve uma atitude mental que primeiro categoriza para depois injustamente etiquetar como inferior todo um conjunto de cidadãos.
Numa sociedade heterossexista, a heterossexualidade é tida como normal e todas as pessoas são consideradas heterossexuais, salvo prova em contrário. O heterossexismo está institucionalizado nas nossas leis, órgãos de comunicação social, religiões e línguas. Tentativas de impôr a heterossexualidade como superior ou como única forma de sexualidade são uma violação dos direitos humanos, tal como o racismo e o sexismo, e devem ser desafiadas com igual determinação.

Fonte :http://www.abalo.com.br/medos/index.htm

E acho que não preciso dizer mais nada sobre o tema. As conclusões que estão na minha cabeça são muito mais pessoais.Se antes eu acreditava que unir o mundo todo e fazer dele um lugar sem preconceitos e diferenças era a coisa certa , hoje eu me desiludo dessa aspiração por igualdade porque ela é indubitavelmente inviável.
Porque hoje, eu discuto, eu analiso, eu julgo o heterossexualismo.
Se antes eu defendia o término de qualquer tipo de preconceito, hoje eu percebo que construí em mim uma raiva imensa, não pelo heterossexualismo em si, mas por algo mais ligado ao heterossexismo. Mas na minha mente não para de latejar a indagação... Quem torna o heterossexismo vigente? Não preciso responder.
Assim, eu começo a perceber a criação de mais uma facção. De mais um grupo brigando pelo poder e pela liberdade. E em toda guerra é necessário tomar uma posição.
Eu fico pensando, chega de perder, chega de se excluir de se esconder, de tentar amenizar as injustiças através da igualdade.
É semelhante ao tema do feminismo. A igualdade nunca vai funcionar. Ou a sociedade é patriarcal ou matriarcal. Ou a sociedade e heterossexista ou é homossexista, bissexista, transsexista... (?)! Nunca vai ser igual.
A questão é de que lado vc está o q vc quer e principalmente... pelo que você luta.
As pessoas tendem a comentar esse tipo de assunto dizendo: Ha... mas vc não pode se tornar uma heterossexista ao contrário, ou uma machista ao contrário... iso é tomar a mesma posição do que eles só que em outro angulo, vc está se igualando a eles e bláblábláblá...
Sim... de certa forma estou me igualando porque quero os beneficios e a comodidade que eles tem e isso me é negado. E já que a sociedade tem que ser presidida por um dos grupos, eu admito que espero, sem pudor, que seja pelo meu.
Não me arrisco a divagar mais sobre o tema por ele ser delicado e minha concepção ainda não estar totalmente clara na minha mente.
Mais tarde posso corrigir um detalhe ou outro ou manter meu ponto de vista.
Por enquanto é isso.
Com toda siceridade.

Anos initerruptos de preconceito e dominação causam danos irreparavéis. Penso que a igualdade não é mais possivel. ( E por deus, espero estar errada!)

sábado, 12 de abril de 2008

Deveriam nascer mais mulheres assim.

" Acusam-me de haver interiorizado o sentimento de inferioridade radical a ponto de atacar minha própria cultura, movida pelo ódio de mim mesma,pois quero ser branca.É um argumento enfadonho. Acaso a liberdade existe unicamente para os brancos? Acaso é amor próprio aderir as tradições dos meus ancestrais e multilar as minhas filhas? Aceitar ser humilhada e impotente? Observar passivamente os meus conterraneos espancarem as mulheres e se massacrarem em disputas sem sentido? Ao chegar em uma nova cultura, na qual vi pela primeira vez que as relações humanas poderiam ser diferentes, teria sido amor próprio encará-la como um culto estrangeiro que os muçulmanos estão proíbidos de praticar?
(...)
Aceitar a subordinação e a violência porque Alá assim quer - isso, para mim, seria trair a mim mesma.

Ayaan Hirsi Ali

Nessas horas eu sei, que o etnocentrismo não está tão errado, como compreender uma cultura que espanca, domina, ultraja e multila suas mulheres?

Ayaan me arrepia... mas são calafrios de identificação.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Expulso da ninhada.

Pq não importa o que passou.

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O que já foi dito

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O que já foi sentido há um raio de anos luz atrás

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Ou o q se imaginava que pudesse ser

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Uma divergencia


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Uma desilusão

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Qualquer mínimo detahle insignificante em uma proporção geral


.Vergonha


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Todo filhote é expulso da ninhada.


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quinta-feira, 27 de março de 2008

As "Dragoas" de Komodo, Akasha, Shamaya, eu... tudo farinha do mesmo saco!

Pois é... eu tenho certeza que na encarnação passada eu fui uma fêmea de Dragão de Komodo.
Meus amigos falam que é viajem minha, mas esse bicho tem um não-sei-o-que que me encanta!
Será que as pessoas não percebem como elas são lindas e poderosas? E elas tem tipo super poderes... Uma saliva venenosa que mata a vítima depois de uma única mordida. Funciona assim:
Elas mordem uma vez e depois seguem a vítima como uma sombra. Após poucos dias, a presa morre e elas a devoram.
Elas reinam em Komodo e em outras ilhas da indonésia, elas são gigantes e déspotas! E são as criaturas mais evoluídas da natureza, além de serem todas feministas radicais (rs)!
Não acredita?
Fêmea de dragão-de-komodo se reproduz sem macho
Duas fêmeas de dragão-de-komodo, a maior espécie de lagarto do mundo, surpreenderam biólogos ao se mostrarem capazes de procriar sem terem sido fecundadas por machos. A partenogênese, nome da "concepção imaculada" no jargão científico, foi observada em dois zoológicos na Inglaterra e descrita por biólogos em estudo na revista "Nature".
A fêmea Flora, que vive no zoológico de Chester (Inglaterra), pôs em maio 25 ovos, dos quais 11 pareciam ser viáveis, sem que tivesse cruzado com um macho dessa espécie, que na idade adulta pode chegar a medir três metros e pesar até 90 quilos.
Os ovos de Flora, uma das fêmeas descritas, devem ter a casca rompida pelos filhotes no começo do ano que vem, afirma Kevin Buley, um dos curadores do zoológico de Chester, onde vive o animal.Oito desses 11 ovos continuaram a se desenvolver normalmente, e os filhotes têm previsão de nascimento para janeiro, já que o período de incubação nessa espécie oscila entre sete e nove meses.
A fêmea Sungai, que vivia no zoológico de Londres, pôs ovos dois anos e meio após seu último contato com um macho e seus filhotes, nascidos sete meses e meio depois, eram sadios.
Os cientistas, dirigidos por Phill Watts, da Universidade de Liverpool, submeteram as ninhadas das duas fêmeas a "testes de paternidade" e descobriram que o genótipo combinado geral dos filhotes reproduzia exatamente o de suas mães.
"Embora se saiba que outras espécies de lagarto realizem autofecundação, esta é a primeira vez que esse processo [de partenogênese] é identificado em um dragão-de-komodo", explicou Kevin Buley, co-autor do artigo, em comunicado divulgado pelo zoológico de Chester.
O dragão-de-komodo vive em várias ilhas da Indonésia, mas tem população pequena, fragmentada e sofre perda de habitat. A espécie pode crescer até atingir três metros de comprimento e é o único lagarto capaz de comer presas maiores do que ele próprio. (Sua saliva tem uma flora bacteriana altamente tóxica, capaz de matar presas por septicemia.)
Uma das teorias sobre a evolução da partenogênese nesses animais é que ela tenha surgido para as fêmeas colonizarem ilhas distantes sozinhas.
Gente... até as femeas de Dragão de Komodo aprenderam que o macho é totalmente dispensável e foram colonizar ilhas sozinhas! Quando é que as humanas vão apredender isso? E aprender de quebra a parar de apanhar, de sofrer todo tipo de violencia e de serem estupradas pelos machos da sua espécie?
Hum... acho que só quando os machos humanos estiverem em extinção... por isso eu ainda acho que a Akasha é que estava coberta de razão!
Aliás, antes eu disse que as " dragoas" eram feministas radicais, mas sabendo que o feminismo prega a igualdade entre os sexos, sou obrigada a reformular minha afirmação! Feminista o caralho, tanto as "dragoas" quando a Akasha a Shamaya e eu, acreditamos mesmo é na supremacia feminina! Se nós, as próprias femeas não fizermos quem vai fazer por nós?
Bom, termino esse post incentivando as femeas humanas a presidirem sozinhas seus espaços,e de preferência furiosas como as femeas de Dragão de Komodo.
E, dizendo que antes de terminar ao lado de um macho, eu acho mais digno ser devorada por uma "Dragoa" de Komodo!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Essa sempre me abala.

E é tão simples...

Janis Joplin - Summertime

Summertime, time, time,
Child, the living's easy.
Fish are jumping out
And the cotton, Lord,
Cotton's high, Lord so high.

Your daddy's rich
And your ma is so good-looking, baby.
She's a-looking good now,
Hush, baby, baby, baby, baby now,
No, no, no, no, no, no, no,
Don't you cry, don't you cry.

One of these mornings
You're gonna rise, rise up singing,
You're gonna spread your wings, child,
And take, take to the sky,
Lord, the sky.

But until that morning,
Honey, n-n-nothing's going to harm ya,
No, no, no no, no no, no...
Don't you cry...

terça-feira, 25 de março de 2008

Quando agente acreditava.

Tá certo, eu nunca gostei de blogs e, até hoje, não tenho paciencia para ler a maioria. Então porque estou fazendo um? Porque resolvi apostar em uma das coisas em que um dia eu acreditei plenamente. Escrever.

Escrevia a história de uma mulher. Ela sentimentos grandes demais para habitarem o próprio corpo. Suas correntezas internas se misturavam sobre a forma de redemoinhos e voltavam a verter águas calmas ao final de cada tempestade. E ela sabia, que não existe melhor exorcismo do que a escrita.
Ela chegou a testar novas técnicas de álivio. Mas elas foram falhando uma a uma. E depois de um tempo ela deixou de acreditar em quase tudo que um dia já a havia impressionado.
E onde está ela hoje? Eu não sei. Sua consiência se perdeu por algum dos tunéis escuros do tempo. Ela desapareceu.

O que eu tive em comum com ela, foi o amor pelas palavras. Esses códigos construídos para identificar absrações que são os únicos instrumentos que realmente podem levar qualquer pessoa onde ela quiser ir.
Para mim, escrever é instinto, espasmo involuntário é quase como sangrar.

Bem, voltando a falar daquela mulher, a que desapareceu, ela era uma radical, uma revolucionária, mesmo que dela mesma. Tinha grandes olhos cor de âmbar e vicios profundos e incuravéis.
Ela odiava a banalização e produção de receitas em massa para se produzir escrita. Ela dizia:
- Escrever é poder, é alma e deveria ser privilégio para poucos. Aqueles que não possuem nem ao menos uma centelha de paixão pelo milagre das frases, estes deveriam apenas ler.

Eu li. Li muito sobre diversas coisas.Mas não o sufuciente para escrever. Essa mulher me odiaria hoje, por estar construindo sentenças aleatórias aqui. Mas como minha indulgencia posso afirmar que não estou pronta para escrever de verdade, mas li o suficiente para praticar. E é o que eu pretendo fazer.

Antigamente eu achava que estava apta a viver o que me era negado através da atmosfera invisivél e semi-satisfatória que o mundo proporciona através das palavras.
Mas sei que viver assim é como pegar um trem para o destino com o qual vc mais sonha.
Imagine o melhor... o melhor lugar do mundo. Para chegar lá porém, você deve pegar o expresso, e enquanto você está dentro da cabine, confortavelmente sentado, você olha pela janela, você fantasia os acontecimentos que irão ocorrer quando você chegar ao seu destino.
Viver no mundo das palavras, deixar suas atitudes e sonhos apenas nele, é como viver nesse trem.
É manter o espírito cheio de expectativas, tanto boas quanto ruins. É mergulhar nelas, se emocionar com elas, chorar por elas, mas nunca vivê-las de fato.

Eu acreditava que esse modo de vida poderia ser satisfatório. Como se isso contituísse uma maneira de manter parte dos seus sonhos, que poderiam ser destruídos por completo lá fora, intáctos.
Eu havia assumido um compromisso com as palavras a tanto tempo que nem me lembro mais ao certo de quando foi.
Ultimamente não estou mais ligando muito para isso. Nem para quase nada.

Mas eu ainda tenho algo em comum com aquela mulher que existiu, e é o fato de não conseguir acreditar mais. E antes eu acreditava tanto, tanto.
Mas eu ainda não quero desaparecer. Por isso continuo. Mesmo sem acreditar. Sentindo saudades do tempo em que todo mundo ainda acreditava, e existia.